sábado, 24 de outubro de 2009

DIA NAICONAL DA JUVENTUDE - Juventude em marcha contra a violência

SUA ÚNICA VIDA
(Maria Rita Kehl - Revista Teoria e Debate maio/junho 2007)

Jantou e foi jogar truco na Praça Jaraguá. [...] Tomou guaraná no bar do português, que reclamou que o irmão dele tinha levado um cigarro sem pagar. Não pagou o cigarro do irmão porque não sobrava pro pôquer. O português falou qualquer coisa[...]. Não estava muito inspirado para arranjar treta. [...]
Nunca tinha pensado em muita coisa. Se sua vida era boa, por exemplo: nunca tinha pensado. Quando era menor e ficava de recuperação, obrigado a estudar de noite, resmungava, “merda de vida”, mas não achava sua vida uma merda. Nem era uma beleza; nem era nada. Era a vida que tinha. Também não parava para pensar que, aos 19, sexo masculino, cor parda, morador da zona norte, fazia parte de uma estreita estatística tenebrosa. O medo era parte da vida dele como tudo o mais, como da vida de todo mundo.
Nunca tinha pensado em si mesmo como maloqueiro. Muito menos como bandido. Só porque dava uma bola à noite com os amigos? [...] Pensava que sua família era pobre, claro. Ouvia o pai dizer várias vezes por mês. [...]
[...] Não foi o primeiro a perceber a chegada dos motoqueiros. Na verdade o que ele viu antes de tudo foi a cara que fez o Eliseu depois de baixar o jogo. Chegou a ter um pensamento engraçado, que o amigo fez aquela cara porque o jogo era baixo, mas não deu tempo de acabar o pensamento porque o Eliseu caiu. Só então escutou o estampido, já no ouvido da memória. Percebeu o colega estatelado no chão.
Será que ouviu o segundo tiro, o que passou por dentro das costelas dele? Só sabe que de repente estava no chão, de cara pro olho vidrado do Eliseu. Aí então pensou, pela primeira vez, que aquela era sua vida. Sua única vida. Pensou pela segunda vez e daí começou a doer. Ouviu uma voz igual a sua gemer, mas não sabia que estava gemendo, estava só pensando que essa era sua única vida e tinha uma moto roncando em seu pensamento.[...]
Ainda teve tempo de pensar nele quando menino empinando pipa.[...] Queria evitar mas gritou mãe. Se sua voz não gemesse de novo o cara talvez nem voltasse para dar outro tiro.
Nunca teria imaginado que no dia seguinte o delegado do bairro diria no jornal que aquilo era briga de pobre matando pobre, de bandido matando bandido.


DIA NACIONAL DA JUVENTUDE 2009


Tema: Contra o extermínio da juventude, na luta pela vida


Lema: Juventude em marcha contra a violência




domingo, 4 de outubro de 2009

`A aranha

A pergunta de sempre
Crises e confusoes.
Uma desculpa elaborada.
Um prazo a mais.
"sentados esperamos"

Objetivos alheios.
O vazio vivo.
O sorriso pra foto.
Cumprimentos burocraticos.
E a vida vagueia.

O olho pisca.
A lagrima cai.
Estradas ... vazias.
Um medo reciproco
E a flor ainda gira.


ps.: Em memoria `a imensa batalha travada entre eu e a aranha que passou pelo meu pe enquanto eu despedia do povo no Gaim. Ficamos por cerca de 40 min. Estaticos. Um encarando o outro... medrosos ... quem iniciaria o ataque??? Enquanto isso, fazia uma pequena reflexao sobre minha existencia (presumo que ela fazia o mesmo). Ate que percebemos reciprocamente que os anseios e aflicoes de um nao interferiam nos do outro. FIzemos um acordo. Eu abri a porta da cozinha com a mesma categoria que ela desfilou para fora da casa. E novamente nos fitamos. Reconhecemos igualmente a grandiosidade do momento. Ultima encarada. "A vista fadigada tive da luz que seu olhar continha". E pronto... fomos dormir sossegados, agradecidos e inspirados. Eternamente grato, dona Aranha...

sábado, 5 de setembro de 2009

IDENTIDADE

Entre senhas e sonhos
giros e flores
um assovio que adormece
"ao som do próprio giro"
passos que aumentam
rimas mau feitas
um português errado.
surpresas indevidas
Mochila nas costas
"o trovão que escapou
as ladainhas das mulheres secas"
cordas aleatórias
Palavras soltas
amizades perdidas
"ao giro do próprio som"
um coração que bate
Entre senhas e sonhos
giros e flores